quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Primeira vez

Estava à toa, em casa, dia desses, esperando o coitadinho do meu namorido voltar do árduo e cansativo trabalho, quando, computador ligado, resolvi passear pelos blogs de amigos. Passei pelo do Guguinha, do Bia e parei no da Karen. Pronto, são as três pessoas que me fazem ler blogs, muito mais para saber como elas estão do que por qualquer outro motivo. Porém, contra tudo o que eu pensava até então, descobri uma função legal, primordial e essencial dos blogs: eles são verdadeiras caminhadas.

Caminhadas a passos lentos e com paisagens muito distintas. Não são bons para o exercício físico, muito pelo contrário, nos dão barriga, porque aqui, do lado do computador, tem, prontamente, um daqueles negócios de papelão que servem de suporte pro copo de cerveja, e isso é um convite tentador em uma noite quente.

Voltando ao passeio, os blogs servem para arejar a mente, diversificar emoções e pensamentos. Por isso, embora nunca vá aceitar o título de blogueira, decidi ter um blog... para arejar as idéias e, principalmente, mas muito principalmente, falar mal dos outros.

Isso mesmo, sem nem um pouco de vergonha ou falso moralismo, quero falar mal dos outros. Sem medo.... apesar que tem um tal de dano moral que pode me render idas ao Fórum... mas pensando bem, o juiz do meu último processo era até simpático e enquanto esperava para ser ouvida bati um papo legal com um advogado criminalista que defende membros do PCC, então compensa responder a alguns processos... rendem boas conversas...

Não acho meus textos sacados e legais como os do Bia, nem despretensiosos e divertidos como os do Guguinha... também não vou ficar pesquisando como A Fresca da Karen, mas acho que dá pra segurar alguns parcos leitores por alguns parcos segundos.

A concorrência é grande... tem gente especializada em falar mal dos outros... gente que ganha dinheiro com isso e gente que perde a vida com isso, mas vamos lá...

Enquanto escrevia as primeiras linhas fiquei pensando quem seria minha primeira vítima - sabe como é, o primeiro a gente nunca esquece - embora fosse melhor esquecer porque o primeiro beijo é sempre babado e a primeira vez dói pra caralho, com o perdão do trocadilho infame...

Decidi então, depois de muito pensar, que não iria falar mal de uma pessoa, mas de várias, que serão unidas como se fossem uma. No blog do Bia tem uma citação sobre jornalistas e resolvi pensar (e escrever) sobre ela. Começo com propriedade, já que, sendo jornalista, tenho conhecimento de causa para falar sobre os nobres colegas. Pressupondo que alguém que não o Bia, a Karen e Gu lerá esse texto, que dizer, post, vamos a um breve resumo do meu gabarito.
Sou jornalista há quatro anos. Me formei numa faculdade do interior, bem do interior, com professores esforçados, mas acho que aprendi o que era jornalismo sozinha. Sempre tive duas coisas que acho essenciais no jornalista: curiosidade e indignação.

Não trabalho em nenhum grande jornal - pelo contrário. Mas também acho que isso não me descredencia. E não quero falar de mim, não me importa o que o leitor vai pensar.
Curiosidade e indignação são coisas que não existem mais entre os jornalistas. Assim como, principalmente entre os novos pseudo-focas, não existe vontade de trabalhar, não existe senso de responsabilidade e muito menos vontade de fazer-as-coisas-bem-feitas. O que se vê é exatamente o que a citação que me motivou a escrever diz: zumbis. Um repórter do jornal onde trabalho, desses que (acho eu) não têm diploma e tiraram MTB baseado em liminar, é uma pessoa legal, mas tem um jeito um tanto quanto particular de ser, difícil de entender. Hoje ele nem fica na redação, é repórter esportivo, mas quando ficava, irritava os repórteres de Cidades dizendo que eles eram "guardinhas". A descrição que vinha depois do começo da gracinha era: "Vá-vá! Vocês vão lá com o questionário pronto! 'Então, prefeito'! Pára! Isso não é jornalismo! Bloquinho! Se tirar o bloquinho da mão de vocês, vocês morrem!". E por aí seguia. Fiquei PUTA diversas vezes por ouvir isso. Acho até que foi isso que me fez desenvolver boa memória para entrevistas e só usar bloquinho para anotar as frases que virariam citações nas reportagens, aquelas que a gente usa entre aspas e não pode errar uma palavrinha. O cara era chato, mas depois que passei a ser editora (um verdadeiro suicídio jornalístico), passei a achar que ele tem razão. Os repórteres são guardinhas.
Aliás, a julgar pela curiosidade, tem um guardinha novo no jornal que colocaria mais da metade da Redação no chinelo. E não é exclusividade do jornal em que trabalho! Não! É característica de uma geração. Uma geração que não sabe dizer "Hã???????? O que você disse???????????? Não, está errado!!!!!!!!!!!!". Uma geração que não questiona, que não se indigna, e que vai formar mais uma geração que não terá indignação e logo, logo, a palavra desaparece do dicionário. Talvez até na próxima reforma ortográfica.

"A coisa tá feia, a coisa tá preta", citando um bom pagode de Tião Carreiro e Pardinho, se não me engano. Ah! Os jornais vão falir com contas telefônicas altíssimas e os carros irão enferrujar no pátio. Está cada vez mais raro alguém que levante a bunda da cadeira e vá apurar uma reportagem! Estamos na fase do "disse", "ameaçou", "prometeu".
Se hoje, um dos nossos novos jornalistas fosse cobrir a Guerra do Vietnã, ficaria de boné, em uma base da ONU, num local bem seguro e, talvez, ligaria para o celular do comandante da tropa para perguntar o que aconteceu. "Ei, comandante! E aí, novidades? O quê? Não tô ouvindo! Tem um barulho estranho aí no fundo? O quê? São bombas? Ah! Minas explodiram! Ah! Só um minuto comandante (pega o bloquinho, a caneta, escora o telefone entre o ombro e o ouvido)! Pode falar comandante! Sete mortos! Ah! Tá! Quantos eram mesmo? Ah! Quatorze, morreram 50%, então, né? Fala mais alto, por favor!O quê? O senhor foi baleado! Tem outra pessoa com quem eu possa falar, então? Ah! Tá! Oi soldado! Eu tava falando com o comandante.... Ah! Vocês estão sendo atacados agora! E quantos são os adversários? Você não pode contar aí, por cima, preciso de números para a matéria! Soldado! Soldado! Acho que caiu a ligação! Tento ligar mais tarde!"

E pensar que o Zé Hamilton Ribeiro perdeu a perna na guerra....