sábado, 12 de janeiro de 2008

Só falta um


Nunca tive muitos ídolos, nem fiquei babando em cantores-atores-semelhantes. Mas confesso que algumas pessoas balançam esse marasmo. Não entendo de música. Normalmente, se guardo o nome do intérprete não sei o nome da canção. Pra filme então, sou uma negação. Se sei o diretor não sei o nome do filme e sou do tipo que toda vez que entra numa conversa sobre cinema conta um pedaço da história pra que alguém venha em meu socorro e cite o nome do filme. Péssimo. Vergonhoso, eu sei. Eu sempre digo que tenho problema de memória, mas como diria uma pessoa que conheço, é uma questão de limitação mesmo.

Mas, entre os poucos que guardo na memória, tem gente que me balança. No cinema, Woody Allen e todas as comédias água-com-açúcar-e-risadas. No jornalismo, embora me interesse um pouco mais por política, pediria um autógrafo ao jornalista de cinema do Estado de S. Paulo, Luiz Carlos Merten. O texto do cara é tudo de bom e ele sabe do que fala...sabe muito. Na música, e aí estão as maiores ondas do meu marzinho, Zé Ramalho, Chico Buarque, Rolling Stones (depois de ter ido ao show do Rio) e Shakira.

Zé Ramalho porque o acho único. Ninguém mais vai ter aquela voz, aquele jeito. Cantar, pra mim, tem que ser mais do que ler a letra. Tem que ter sentimento, tem que fazer arrepiar, tem que saber do que se fala. Também é preciso se impor. Tirar as pessoas do sofá. Fazer pensar, pular, dançar, correr. Música pra mim precisa ser sentida, não só ouvida. Eu sinto o que o Zé canta.

Chico Buarque não precisa de comentários e eu não vou me atrever a falar sobre o cara porque sou analfabeta perto de tanta gente que estudou sua obra. Limito-me a dizer que gosto. Só isso.

Agora, a última da lista...ah!...essa mulher é foda. Foi a primeira coisa boa de que realmente gostei na adolescência. Ouvia "Pies Descalzos" em uma fita K-7, que não lembro quem gravou pra mim. Sabia, claro, todas as letras. Ouvia tanto que meu pai, fã de Tião Carreiro e Pardinho, sabia todas as músicas da mocinha "que canta enrolado". Claro...a fita da Shakira quebrou e enroscou no rádio do carro. Por um bom tempo, se quisesse ouvir música enquanto dirigia, ele teve que ouvir Shakira. E até acho que gostou porque demorou pra mandar arrumar o rádio.

Os amigos jornalistas culturais não venham aqui esperar todas as referências em relação à carreira da moça. Isso tem lá no http://www.portalshakira.com/. Não ouço música pra saber a marca da guitarra com que a nega fez show em 1995. Ouço música porque gosto da música, só. Mas vá lá. Comecei este post para dizer que a "mocinha que canta enrolado" estará no Brasil em abril. Parece que os shows começam dia 11, em Porto Alegre, e depois a colombiana faz apresentações em Curitiba, Rio, São Paulo e Brasília.

Eu vou, nem que seja de barco a remo pelo Guaíba. Só falta essa apresentação para poder dizer que todos os shows que queria ver, até os 29 anos, foram vistos. Zé Ramalho em Americana, Chico Buarque em Jaguariúna. Rolling Stones naquele ultra-super-megalomaníaco-evento no Rio nem estava no calendário, mas vai entrar pra história. Prá minha e de mais 1,3 milhão de pessoas.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Mais um descaso


Gostei da idéia de repartir experiências. Faz bem e a gente desabafa, os problemas diminuem e o mundo continua girando.Já que já falei mal dos outros e já transformei o blog em divã, agora vai uma coisa séria.

No jornal, recentemente, vivemos de tragédias. Janeiro, entre Natal e Carnaval, é a época de entressafra de matéria. Nada nem ninguém funcionam. Tem gente de férias e tem gente que finge que está trabalhando, rezando pra esse restinho de ano passar logo.

Política é um marasmo. Todo mundo na praia, sujando os pés na areia e tomando banho de água salgada. Humpz! As tragédias tem salvado a pátria dos jornalistas. Urubus que somos, vivemos da tragédia alheia. Isso não é nada confortável, mas cada um com seu cada um.

A da semana foi a superlotação da Cadeia Feminina de Monte Mor, cidadezinha pacata na RMC (Região Metropolitana de Campinas), que vive basicamente da agricultura. Num cubículo de duas cela e um pátio, eram 120 mulheres amontoadas em um espaço reservado para 12. Pra quem é ruim de conta, imagine se agora, aí na sua cadeira, reservada confortávelmente pra você, estivessem sentadas mais 9 pessoas. Era isso lá em Monte Mor.

São presas. Meu pai diria que está ótimo desse jeito, que se elas não quisessem passar por aperto que não tivessem cometido crimes, etc. Concordo em partes, mas uma história entre tantas me fez pensar nessas pessoas com mais cuidado.

Uma das mulheres estava lá porque foi levar droga para o filho na cadeia. Pega, acabou enquadrada como traficante. Só fez isso porque o filho estava sendo ameaçado na cadeia e, pra mãe, todo filho é santo, mesmo que provem o contrário.

Essa é só uma das histórias e devem haver outras milhares. Mas o que vale lembrar é que são pessoas. Gente. Povo. Nenhuma cadeia precisa ser um hotel cinco estrelas. Mas qualquer pessoa tem direito ao mínimo de dignidade. Cadê o Estado?

E nem foi a questão social que me chamou a atenção nesse caso. Foi o descaso. Não o descaso do poder público com as presas, mas o descaso que vi no rosto de muita gente que ouvia a história. Jornalistas. Gente que se limitou a dizer: "tá lotado, hum, hum, mais um né". Pô, mais um! Não é só mais um! É gente! É um desrespeito! Tem mulheres inocentes ou quase inocentes, se é que isso existe, ali no meio.

Cadê a humanidade?
O gato comeu!
Cadê o gato?
Caiu no buraco!
O buraco é fundo!
Acabou-se o mundo!

Diante de tal "descaso" com o caso, com o caos, lembrei do poema "O Bicho", de Manoel Bandeira:

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.


Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.


O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

Aquelas mulheres foram tratadas como bichos. Viveram e conviveram com outros bichos: ratos, baratas, piolho. Se transformaram ali, nesta situação, em bichos mais ferozes. Sairão de lá, um dia, enfurecidas como bichos. E criarão seus filhos, bichos.

E daí fui dormir pensando: em que bicho nos transformamos?

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Morte aos sete anões!


A gente realmente aprende a vida inteira. Graças a Deus. Eu aprendi que, quando e se tiver filhos, não importa se menino ou menina, eles serão proibidos de ler contos de fadas. Serão livres para andar de bicileta, dirigir antes dos 18 (como eu fiz), experimentar maconha ou qualquer outro tipo de substância proibida, mas nada de serem ludibriados pela Branca de Neve ou Cinderela. Podem usar bolsinha de mão, roupa preta ou franja na testa, mas nada de acreditar na ridícula história do sapatinho de cristal.

As pessoas são ludibriadas por todos os personagens bonitinhos na infância. Depois, na adolescência e até na fase adulta, vêm as histórias de "Uma Linda Mulher", "Flashdance", "Como se fosse a primeira vez" e blá-blá-blá. Tudo balela. O Príncipe Encantado é sapo. Final, se é feliz, nunca é final e certo estava Vinícius de Moraes com o "e se acaba, não era amor".

Eu tenho uma idéia de como acabaram realmente aquelas histórinhas. A Branca de Neve se casou com o príncipe, teve dois filhos branquinhos de cabelos escuros e olhos claros (sim, porque todo príncipe é loiro de olho claro) e depois fugiu, no cavalo branco, com o Soneca (o anão que fingia dormir para passar despercebido). O príncipe ficou com dois filhos e um belo enfeite de cabeça. Perdido, começou a usar drogas e foi preso por roubar um sabonete. As crianças foram para um orfanato onde foram abusadas por pedófilos disfarçados de voluntários.

A Bela Adormecida, coitada, pediu várias vezes para voltar a dormir. Depois de saber que seu príncipe a traiu com a irmã feia da Cinderela, passou a ter depressão profunda, crises de enxaqueca e insônia. Tomou duas caixas de Lexotan de uma vez só e, bom, não teve um final feliz.

A Cinderela, por sua vez, depois de casada com o príncipe, um homem possessivo que não deixava que ela colocasse os pés para fora de casa, acabou pesando 120 quilos. O sapatinho de cristal virou enfeite de geladeira e o príncipe decidiu ter um caso com a outra irmã feia, que a essa altura havia passado por cirurgia plástica e lipoaspiração e estava ganhando a vida como modelo internacional, tendo dado um impulso em sua carreira depois de transar com um estilista famoso.

A Bela, cansada de limpar os pelos que a Fera perdia pela casa, decidiu ser independente. Se formou em direito, passou em um concurso para juíza e trocou a bola de pelos por um belo promotor de justiça. As xícaras e bules falantes do castelo foram quebrados pela empresa que fez a mudança da Bela para um apartamentinho. A Fera, desconsolada, deixou o castelo para as traças e desapareceu.

Assim, mentem os escritores e todos aqueles que dizem "Eu te amo" só porque não sabem o que dizer depois do beijo. Melhor aqui seria seguir o conselho do rei da Espanha: "por que não te calas?".